VASCO DE SANT´ANNA
( Brasil – RIO GRANDE DO SUL )
Vasco de Sant´Anna é nome poético de um gaúcho que há quarenta anos está fora do pago. No torrão a que a vida o levou, ele costuma hastear a bandeira do Rio Grande, entre hortênsias, parreiras e outras frutíferas, ao lado do pinheiral que ama. Sempre que chega ali, livre espaço em que mateia, lê, ouve música, joga truco, colhe milho, churrasqueia, repassa lembranças, renova esperanças e recebe os amigos, levanta alto as cores do pago de nascença. No nome traz marcas de ascendência étnica, de herança cultural e d origem geografia de nascimento. Publicou, em 2003, Sonata de Outono, pela Editora Alcance.
BERNY, Rossyr, org. Poetas pela Paz e Justiça Social. Coletânea Literária. Vol. II. Porto Alegre: Alcance, 2010. 208 p. ISBN 978-85-7592-098-5
Ex. biblioteca de Antonio Miranda – doação do amigo (livreiro) Brito – DF. No. 10 249
Importante: existem mais poemas do que os apresentados aqui, neste livro tão bem apresentado, vale a pena conferir...
Quando...
Quando da noite já as primeiras sombras
sobre a terra, tristes, se estenderem;
quando casais de rolas e sabiás
seus ninhos, amorosos, pretenderem;
quando, ao longe, uivarem os guarás
e a ema esquiva pelo campo corra;
quando o céu todo se cobrir de rosa
e a tarde triste suavemente morra;
quando o lago refletir, sem jaça,
a copa verde do chorão pensante
e sobre a terra o silêncio se faça,
debruçado em teu peito, doce amante
o último gole vou beber na taça,
quero morrer co´o dia agonizante...
Prélude a l´aprés-midi d´um faune
Sinto vontade de sair de mim mesmo
e voar como os pássaros pelo espaço afora;
de mergulhar
como os peixes nos mares profundos
e visitar as paisagens submarinas;
de ser transportado pela vagas
e ir bater em alguma ilha
onde haja coqueiros deitados sobre o mar,
de penetrar nas profundezas da terra
e ir banhar-me nos rios subterrâneos;
de vagar pelos espaços siderais,
brincar nas nebulosas
e descansar em Marte,
vendo os cometas solitários desfilarem
deixando atrás suas caudas luminosas...
Vontade de fugir de algo
que não sei o que é,
de procurar algo que não conheço,
de amar algo que não existe!
Nessa noite
Oh! Maria, foi tão linda
nossa noite, tão brilhante!
Vieram gênios, vieram duendes,
vieram ventos, tempestades,
veio a vida, e veio a morte.
Eu peguei um pedacinho
de estrelas e luar
e coloquei no teu cabelo...
Oh! Maria, foi tão lindo!
Cavalgamos, despencamos,
explodimos, mergulhamos,
arrasamos, construímos,
não saímos do lugar.
Oh! Maria, foi tão linda
nossa noite tão pequena:
Houve danças, houve cantos,
houve sinos e houve preces,
houve gritos e silêncios.
Oh! Maria, nessa noite,
coube a noite e coube o dia,
coube um ano, coube um século,
não durou mais que um momento.
Oh! Maria, por que teve que acabar?
Quarenta
Quarenta, e agora?
O tempo passou,
a vida se fez,
a areia escorreu
no meio dos dedos...
Nasceu uma estrela
em muitas auroras;
passaram os ventos
assobiando canções,
ficaram os sonhos
envoltos na bruma...
Quarenta, e agora?
Tantas coisas vividas,
tão pouco curtidas,
paisagens não vistas.
A angústia do nada
e a glória do tudo!
Quarenta, e agora
Tanto tempo perdido,
e tão pouco apendido.
Tristeza infinita
gostosa tristeza!
Quarenta, e agora?
Cinquenta, sessenta talvez.
Um passo pra frente
e o olhar para trás,
um beijo, um abraço,
um travo na língua,
um nó na garganta,
um desejo de paz
e um anseio de luta
e a busca sem tréguas
do horizonte perdido...
Quarenta, e depois?
*
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Página publicada em maio de 2025.
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